Eu era pequeno e sabia que havia aprontado, minha consciência já me punia previamente. Mas mesmo eu já tirando a lição daquele erro não me livraria da correção dos meus pais, que estava cada vez mais próxima de acontecer, bastava que eles descobrissem a arte.
"Eu não quero ouvir" pensei. Já me culpava o suficiente. Tive a brilhante ideia de me esconder no banheiro, trancar a porta e por lá passaria o resto da vida. Acabei dormindo e quando acordei ouvi duas vezes, por ter sumido e pela bagunça aprontada.
Essa fuga do que não queremos ouvir se tornou cada vez mais presente na minha vida, nem tanto nas minhas atitudes, mas como um comportamento cada vez mais comum nas pessoas próximas a mim, e porque não dizer na sociedade atual. Percebo que quando se comete erros, finge-se que nada aconteceu até que o tempo faça que todos esqueçam do ocorrido.
Pode parecer autodefesa, mas o nome correto é fuga. Fugitivos não resolvem seu problemas, vivem reféns deles. A atitude que inicialmente é inofensiva, vira hábito, e causa danos comportamentais muito sérios. Resulta em pais que não admitem os erros de seus filhos, profissionais que não aceitam feedback negativos, amigos que se afastam daqueles bons amigos que os corrigem.
Não tratamos mais dos assuntos que não nos agradam. Nos tornamos uma sociedade de mimados e covardes.
Cada vez mais nos fechamos em nossos erros, e nos afastamos de todos que nos amam. Passamos a tomar nossas decisões sozinhos, sem consultar ninguém, com medo que discordem e nos desmotivem. Acabamos só deixando por perto aqueles que alimentam a nossa vaidade e nos limitam a nós mesmos.
Mas o que ninguém percebe é que essa atitude é consequência da culpa que sentimos, da consciência que nos fala "você sabe que esta errado". A fuga não é dos outros, mas de si próprio.
Ao me esconder no banheiro eu ainda convivia com meu erro. Ele só foi embora quando eu o enfrentei. Não passe o resto da vida trancado. Ouça!