quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Saudade de que...



Desde de meus primeiros dias nessa terra tão distante tenho sido questionado a respeito de quem ou de que mais sinto saudade, do que tive que deixar para trás na longínqua Porto Alegre. Confesso que me surpreendi comigo mesmo quando ao buscar a resposta mais sincera para o tema saudade, não encontrei nada de óbvio, com aquelas saudades comuns: amigos, família, cachorro. Obviamente eu menti...

"I miss so much my family, my friends, my little dog..."

Não me julguem prematuramente como um ser frio, que abandona o lar que o acolheu e fez crescer mas depois segue a vida para o estrangeiro como se não houvesse passado. O problema é que faziam apenas alguns dias que eu partira de minha cidade e por isso mesmo sabia que ela estava apenas a algumas horinhas de distância. Tudo de Porto Alegre ainda estava muito vivo em mim. Além disso, havia tanto desafio na cidade nova que eu acabava de chegar que a minha cabeça estava suficientemente ocupada para que eu pensasse em saudade.

Passado um tempo, e já com saudades verdadeiras, tive a oportunidade de refletir honestamente do que eu mais sentia saudade. Por vezes quando nos afastamos de nossa casa - nosso porto seguro - nos encontramos chorando sem saber exatamente o porque. E é realmente difícil classificar a motivação dessas lágrimas... Saudade dos pais? talvez, mas eu acabei de falar com eles; Dos amigos? mas eles também se fazem presentes de tantas outras formas (a internet não permite abraçar, ainda, mas nos aproxima muito mais do que no passado)...

E pensando nisso encontrei que a saudade que sentia era de tudo aquilo que eu já não posso mais comprar uma passagem e voltar atrás...

Sinto saudade dos meus pais e minhas irmãs, mas sobretudo de quanto diariamente nos encontrávamos em volta da mesa. Lugares marcados, pai na ponta, mãe a direita com minha irmã mais velha ao lado, eu e a mais nova nos revessávamos à esquerda quem ficaria mais perto do pai. Lá almoçávamos, jantávamos, contávamos a vida, as vezes brigávamos, mas eramos família. Hoje continuamos família mas ninguém mais senta em volta daquela mesa, cada um teve que tomar o seu destino.

Tenho saudade do sentimento que os irmãos tem quando são pequenos: podemos brigar, mas estaremos para sempre juntos. Vivi isso em um episódio muito bonito da nossa infância quando nós três juntos deixamos uma festinha de aniversário após o aniversariante mimado xingar minha irmã menor (só porque ela tinha empurrado ele numa poça no dia anterior). Mas a vida adulta veio e com ela cresceram as nossas diferenças. Aprendemos que mesmo na fraternidade existem alguns limites.

Tenho uma saudade especial das minhas avós. De uma vez por mês saber que o final de semana seria na casa da vó Teca, que eu acordaria cedo para tomar mate com ela e meu pai, que teria pão com o melhor ovo frito do mundo. Saudade de atender o telefone diariamente para conversar os mesmos assuntos com a vó Helena, que após a minha formatura da faculdade ainda me perguntava como estava o colégio, e usava com sabedoria a descrença que todos tinham no seu entendimento para cuidar ao jeito dela da família. Já não tenho a vó Teca para visitar a sete anos, e a vó Helena não pode me ligar a três.

Gostaria de resumir a saudade que tenho dos meus amigos que cresceram comigo no mundo mágico a escola São Vicente Mártir a falta que faz jogar bola com o Pablo, e isso já não podemos fazer desde os 15 anos. Eram tempos que não existiam jogos "por brincadeira" mesmo que a bola fosse uma latinha amassada. Eu não precisava olhar, sabia que ao tocar a bola ele estaria lá, e não ficava reclamando de passe ruim, dava um jeito. Mas aí ele se mudou para Brasília, o Felipe Mi também enfrentou uma barra, todo mundo mudou de colégio, e a vida seguiu. O futebol nunca mais foi o mesmo para mim.

Cresci em um ambiente de saudosismo prévio. Meus pais viviam falando para aproveitar as avós pois um dia eu não as teria mais, e não é que eles estavam certos. Não poderiam me deixar melhor herança em vida, pois tenho a certeza que esse conselho me deixa hoje com uma saudade boa, leve. Assim como as outras saudades, tenho certeza que fiz naquele tempo tudo que poderia para aproveitar cada segundo. 

Hoje em dia compartilhamos saudades efêmeras, vazias e temporais. Como aquele amigo que viaja para longe para ficar postando que sente falta dos que ficaram, mas que quando esta perto não faz tanto esforço encontrá-los. Não julgando ninguém, mas não gostaria de ser um desses. Talvez alimentemos essas saudades passageiras pois perdemos a capacidade de cultivar relacionamentos mais profundos, e usamos essas "declarações" como uma bengala.

Tudo o que estou vivendo agora logo será passado, passará. Essa consciência nos faz, ou deveria fazer, viver o momento da forma mais plena possível, para que a saudade futura seja repleta de conforto, não de arrependimento. Penso que a chave seja olhar para tudo o que você vive hoje, e já começar a sentir saudade desde agora...

Já dizia Mario Quintana: "O tempo não para, só a saudade faz as coisas pararem no tempo".